O LAGO DE CORUPUTUBA

A foto acima obtive em 1967 com a minha antiga Bieka. É o lago da Fazenda Coruputuba, em Pindamonhangaba.

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Retorna dos campos, pai




Retorna dos campos, pai, aqui está a carta do nosso Pete.
E vem para a porta da frente, mãe, aqui está uma carta de teu filho querido.

Repara, é outono.
Repara, onde as árvores, profundamente esverdeadas, mais amarelas e mais vermelhas,
Refrescam e adoçam as vilas de Ohio com suas folhas flutuando ao vento moderado,
Onde as maçãs amadurecem nos pomares e as uvas nas vinhas treliçadas,
(Sentes o aroma das uvas nos vinhedos?
Sentes o odor do trigo sarraceno no lugar em que as abelhas estiveram zunindo ainda agora?)

Acima de tudo, repara, o céu tão calmo, tão transparente após a chuva com nuvens ameaçadoras,
Também abaixo, tudo calmo, tudo vital e lindo, e a fazenda prospera bem.
Abaixo nos campos tudo prospera bem,
Mas agora, dos campos, vem, pai, atende ao chamado da filha,
E vem para a entrada, mãe, para a porta da frente, vem imediatamente.

Tão rápido quanto pode, ela vem, sente um agouro, seus passos tremem,
Não se demora para arrumar o cabelo, nem para ajustar seu chapéu.

Abre com rapidez o envelope.
Ó esta não é a letra de nosso filho e, contudo, está assinada com seu nome,
Ó um estranho escreve pelo nosso filho querido, ó alma de mãe ferida!
Todas as coisas dançam diante de seus olhos, visões negras, ela capta apenas as palavras mais importantes,
Sentenças partidas, tiros, ferimento no peito, cavalaria escaramuça, levado ao hospital,
Não está bem agora, mas em breve estará melhor.

Ah, agora a imagem única para mim,
Em meio a todo o fértil e rico Ohio, com todas as suas cidades e fazendas,
Com o rosto pálido doente e com a mente deprimida, muito fraca,
No batente de uma porta se apoia.
Não chore, querida mãe, (a recém-crescida filha fala entre soluços,
As irmãzinhas amontoam-se em volta caladas e pálidas,)
Vê, queridíssima mãe, a carta diz que Pete ficará melhor em breve.

Ai dele, pobre rapaz, ele nunca ficará melhor (nem talvez precise de melhoras, aquela alma corajosa e simples),
Enquanto eles se reúnem na porta de sua casa ele já está morto,
O único filho está morto.

Mas a mãe precisa estar melhor,
Ela, agora, magra e vestindo-se de preto,
Durante o dia não toca em sua comida, depois, à noite, com o sono cortado, acordando a todo momento,
Andando à meia-noite, chorando, saudosa com uma saudade profunda,
Ó que ela possa se retirar sem ser notada, em silêncio, escapando da vida e recolhida,
Para seguir e procurar e estar com o seu querido filho morto.

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Poema de Walt Whitman = em Folhas de Relva