O LAGO DE CORUPUTUBA

A foto acima obtive em 1967 com a minha antiga Bieka. É o lago da Fazenda Coruputuba, em Pindamonhangaba.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Araújo, o Professor Pardal


O Araújo, o Ângelo, os irmãos  Amarante , o Homero, eu, o Bosco, o Zaga, o Pedro, nosso primo Valério... Era essa a composição mais frequente do nosso timinho – e era com essa turma que, nas manhãs de domingo, a gente percorria Coruputuba, atrás dos desafios e das revanches. Vila Figueira, Fazenda, Vila Jacarandá, Vila Maria, Vila Campineira... Sendo que o nosso mando de jogo era no campinho perto da Igreja, no meio dos eucaliptos.

O Adauto acompanhava a gente, mas não para jogar. Nem podia, ele já jogava na Industrial. Ele ia com a gente, mas era para apitar. Interessante um time excursionar levando o árbitro. Mas ele não dava mole não. Chegou a me expulsar na Jacarandá, por jogo perigoso.

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Numa festa de Primeiro de Maio, formei dupla com o Araújo e ganhamos a corrida de três pernas. Depois, quisemos aplicar esse sistema de forças na bicicleta e fomos para a Vila São Benedito, ele no selim e eu na garupa. Ele pedalando com a perna direita e eu com a esquerda. Assim, cada um podia colocar toda a força em uma perna só. A bicicleta virou um bólido, sensacional. Até que um dos dois se atrapalhou e os dois caíram e fomos ralando no asfalto novo da estrada... Doeu muito! Mas subimos de novo na bicicleta, que só tinha entortado o guidão, e prosseguimos mais devagar.

Nosso companheirismo com o Araújo atravessou a adolescência e continuou. Ficou muito amigo do Bosco. Juntos, tocavam no Vox Populi nas igrejas, nas festas. Tocaram na Basílica de Aparecida.

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O Araújo gostava muito de ler, era um estudioso. Nas revistas em quadrinhos que ele me emprestava eu gostava muito da Epopeia. Foi naqueles quadrinhos que, aos quatorze anos, eu aprendi sobre a guerra de Troia, sobre o Quo Vadis e outras grandes aventuras.

 Ele já nos deixou há alguns anos, tornando este nosso mundo um pouco mais triste. Mas eu me lembro dos episódios em que ele deixou o mundo da nossa adolescência mais alegre e engraçado.

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Num belo sábado resolvemos fazer uma caminhada para conhecer o trecho de várzea atrás da Vila São Benedito. Fomos, a pé, pelo asfalto. Então, um pouco antes da entrada para a Fazenda, tivemos que passar na frente de umas casas onde havia dois cachorros grandes e bravos.

O Araújo estava com um pedaço de pau de lenha na mão e os cachorros vieram latindo para cima dele e ele saiu correndo. A gente já sabia que aqueles cachorros detestavam pessoa que estivesse com um pau na mão. Por isso que estavam perseguindo o Araújo.

Eu, o Pedro e o Bosco fomos atrás, gritando: LARGA O PAU, ARAÚJO. E ele correndo cada vez mais. Até que eu entendi e gritei: ARAÚJO, JOGA ESSE PAU FORA.

Então ele jogou o pau e os cachorros pararam de perseguir o Araújo e voltaram resmungando e rosnando.

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No começo dos anos sessenta, todos se interessavam muito pelas conquistas espaciais. Mas o Araújo era demais, lia tudo sobre naves e sputiniks, sobre voos tripulados e não tripulados, sabia tudo sobre combustíveis líquidos e sólidos, tinha na cabeça o ranking das conquistas russas e americanas.

Então, começou a contar para todo mundo que ele ia fazer subir um foguete, estava pesquisando um combustível revolucionário. Realmente, a gente viu que ele estava trabalhando num tubo reforçado, parece que era de alumínio, fazendo uma ponta de ataque, colocando na outra extremidade umas aletas direcionais. Mas sobre o combustível ele ainda não falava nada.

Numa bela manhã de domingo houve uma reunião no Largo, perto da Quadra. Parecia o público preparado para ver a demonstração do voo de Santos Dumont. Por fim, lá veio o Araújo, que morava ali pertinho mesmo, vizinho da Tatá. Veio o Araújo trazendo cuidadosamente o seu míssil. O pessoal rodeou e ele pediu que abrissem espaço para a experiência.

Foi tudo bem rápido. Posicionado o foguete, ele colocou fogo num pavio, a coisa soltou de repente um monte de fumaça e disparou para cima, deixando no ar um forte cheiro de laranja queimada. Foi cair perto da Pensão. Os gritos explodiram: – Viva o Professor Pardal!

O combustível secreto tinha sido casca de tangerina, secada ao sol durante muitos dias, até ficar esturricada. Mas que o foguete subiu, subiu! Mais alto que a Caixa D’água!

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paulotarcizio@gmail.com

www.paulotarcizio.blogspot.com 

Texto de Paulo Tarcizio da Silva Marcondes
Foto: Arquivo Historico Waldomiro Benedito de Abreu - Quadra e caixa d'água de Coruputuba 

7 comentários:

  1. Muito bom Paulo. Essa de "excursionar" com o time nas vilas é de "matar" de saudade.
    Saudades também do Araujo.

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  2. Muito bom,leitura assim faz a gente reviver a adolescência,que tempo puro de amizade verdadeira e duradoura, parabéns professor!Você faz a saudade se tornar imagem,leio aos poucos pra aproveitar ao máximo cada lembrança.

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  3. Paulo, suas publicações me fazem voltar no tempo, lembrando pessoas e fatos de Coruputuba. O Araújo era um cara muito bacana, bem como você e seus irmãos.

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  4. Boom demais!!!!!! Kkkkk gostei da parte do cachorro

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  5. Várias historinhas interessantes, gostei!

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  6. Gostei das historinha, muito mesmo!

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  7. Que espetáculo de texto! Um verdadeiro poeta escreve assim, de forma clara e simples, de fácil assimilação! Obrigada por todas as suas lindas histórias meu amor!

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